Wednesday, November 01, 2006

Bruxelas



"(...) a cidade que eu não conheço, que você não conhece; são as ruas que nós não atravessamos, são os outros caminhos possíveis."Jorge Luis Borges


Não, não é uma cidade poética que nos encha a alma e nos transporte a multiplos caminhos possíveis, a visões semeadas pela diferença ou pela singularidade estetica.

Falta-lhe alguma luz, muita luz; falta-lhe o caminhar embalado pela surpresa que a descoberta das cidades tem. Alguma ausência de identidade visível no mosaico de culturas confinadas a espaços específicos. Um espaço multiplo onde basta caminhar para perceber a qualidade de vida ou o menosprezo social a que as cidades exclusivamente votam alguns.

É uma cidade de dispersão, ponteada por algumas zonas arquitectónicas de interesse e por sítios românticos onde se conservam memórias e costumes únicos.

Provavelmente estou a ser injusta. Bruxelas pode muito bem ser cidade que eu não conheço, as ruas que não atravessei, outros caminhos possíveis, como diz Borges.

Para mim foi quase uma cidade invisível, sem o tom que Calvino imprimiu às suas cidades invisíveis. Calvino baptizou todas as cidades com nomes femininos numa apologia à beleza e ao misticismo feminino.

Para mim Bruxelas foi viagem. Foi errância, busca, procura, muitas vezes interior. Citando Sofia, o meu espaço de saída e retorno consolida-se na errância.

E tenho de partir para saber
Quem sou, para saber qual é o nome
Do profundo existir que me consome
Neste país de névoa e de não-ser

SOPHIA DE MELLO BREYNER

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