Wednesday, January 10, 2007

Saturday, January 06, 2007

Um outro olhar




Quero que te transformes em
sonhante sem memória,
ausente de passado,
inscrição, história.
Virado ao exterior
ângulo raso
oposto a simetria
porque limpo de qualquer esboço ou forma
que rememore ou lembre
ou ouse pensar.
Quero que prossigas
uma deambulação sem tréguas
atraído por um mundo
que de tão novo
nada tenha de seu ou comunhão de outrém
Um mundo limpo
onde os recortes das paisagens
de tão novos
cheirem a tinta fesca,
um mundo onde os recortes do presente
não se alicercem no passado.
Onde sonhante sem memória
te reencontres
natureza, rocha, gesto.
pronto ao alcance do perto,
longe perdido no tempo.
Refeito.
Num novo olhar.

Começar de novo


Henri Matisse. Leda and the Swan. 1944-46
O meu espírito é hoje
avassaladoramente atravessado
por remomerações fotográficas
de risos abertos e objectos
felizes em tempos
por ti vestidos substância feliz e pura.
Perdi muito tempo imaginando
que aqueles por quem mudaste
te mereciam e que a mudança
anteciparia
uma felicidade que jamais se esvairia.
Ah! se o tempo não existisse
Entre momento e instante,
a muralha que costruiste
matizadade gente fria e diafana
quedou-se sem consistência.
A realidade fulgurante
exige-te, agora,
que corajosamente ultrapasses
e de novo partas.
Não é este o teu figurino.
No teu tecido
sombreado por uma dupla janela
- uma fechada à mesquinhez,
outra jurrando luz,
caberá a lucidez.
Rosa (Jan. 6)

Substância


É preciso limpar do corpo a substância. Torná-la
volátil e
ténue.
Repetidamente,
aqueles que legivelmente
e com memória decidida
te segredavam amor
passaram a soletrar abruptamente vazios
dor e sedução vestida mentira.
Quem gostarias de ver ao teu lado?
A incerteza a invadir-te
como lâmpada que se funde inesperadamente
ou a certeza do texto
claro, limpo e harmonioso
tão adequado ao teu ser poesia?
E o corpo ser, onde e a quem o deixarias?
Entregue a uma voz que
so fingidamente
ousa inscrever a noção
de afecto e reconhecer
a quem o dar?
Como diria o poeta: Il ya des fleurs partout pour ceux qui veut bien les voir.

O Jogo da Liberdade da Alma


(...) estou repousada e sem temor e,
quase dormindo, invadida pela certeza que escrever
o jogo da liberdade da alma
é o mesmo que sentir a alma a brincar
com o album do futuro que repousa sobre os meus joelhos e
os de Témia.
O conhecimento
intuitivo percebe que as cenas brincam
apenas a inteligência não entende como _______ Tanto este (o
presente) como aquele futuro,
actualizam constantemente a força urgente de Témia,
a que nunca se submete, nem crê que o amanhã trará a alegria
que o hoje lhe negou. (...)
Maria Gabriela Llansol

Aprendizagem


O que aprendi contigo?
Que o inesperado irrompe
Como irrompem incertezas
Em cada arcordar.

E que a única certeza
Em cada despertar
É que a vida não é um acordar
Consoante com a substância.
Rosa (Jan. 7)